Rejeitar emoções negativas não transforma a situação
Trabalhar com arte terapia é se deparar muitas vezes com essas emoções. Pessoas olham para as imagens internas que produzem e é impossível não ver: alegria, tristeza, ternura, raiva, medo, angústia, amor e tudo o mais que nossa humanidade contém. E rejeitar emoções negativas não transforma a situação.
No entanto é desafiador perceber o quanto qualquer emoção dita negativa é com frequência negada e recusada. Numa sociedade onde a maior parte das imagens em rede sociais aparentam vidas alegres, extrovertidas, de sucesso e sem desafios é compreensível que quando alguém enxergue através de uma imagem interna uma angústia, um medo, uma frustração diga quase que de forma instantânea:
Mas como eu saio disso? Não quero sentir isso.
Encontrar equilíbrio e bem-estar requer tempo
Será que precisamos sair de nós mesmos para sermos pessoas mais saudáveis e experimentarmos bem-estar? Será que não precisaríamos ter tempo para elaborar nossas questões, conhecer mais sobre nós mesmos e sobre os outros, percebermos nossa forma de viver, olhar e reagir diante das situações, pra daí sim buscarmos caminhos efetivos para nosso maior equilíbrio?
Tem sido comum ouvir de pacientes e alunos o desconforto que sentem por se sentirem tristes, amedrontados ou raivosos as vezes. E o quanto é difícil aceitar e ficar um pouco em contato com a própria natureza sem se sentir inadequados ou excluídos da “vida” por conta disso. É como se na imagem da vida que estamos criando, não coubesse mais a própria condição humana.
– Que vida é esta?
Vivemos numa cultura obcecada pela imagem externa. Perfeita. Sempre feliz. Falsa. Montada. Desconectada de nossa condição humana. Experiências e emoções dolorosas fazem parte de nosso viver. Não como um fim último. Um veredicto final. Mas como parte de um caminho de crescimento, autoconhecimento e a possibilidade de construção de uma vida bem vivida. Negar esta parte da existência é desumanizar a vida.
E como a arte pode ajudar?
A arte é generosa. Acolhe e aceita a nossa experiência interna sem julgar. Numa mandala, um desenho, uma pintura podemos expressar qualquer emoção. Sensações, sentimentos, visões de mundo, tudo pode ser revelado. Até mesmo estados internos que sentimos dificuldade em colocar em palavras. Aquilo que sentimos, mas não sabemos ao certo porquê.
“Na arte a pessoa pode relaxar suas defesas e permitir-se contatar, sentir, elaborar e exprimir o que de outra forma poderia ser-lhe perigoso e/ou ameaçador: seus impulsos, raivas, sonhos, desejos inconfessáveis, seu ser mais profundo e autêntico”.
Selma Ciornai
Além disso só o fato de podermos expressar algo que está nos trazendo desconforto, escolher um tempo para colocar uma emoção negativa ou dolorosa num bom lugar (num desenho, numa mandala, numa dança, num canto) já é terapêutico. Ajuda a elaborarmos nossas experiências e minimiza o impacto da repressão ou excesso de expressividade no próprio corpo e no ambiente ao nosso redor. É uma forma gentil e respeitosa de lidar e de estar no mundo.
Mais ainda, nos reconecta a nossa natureza. Desde a época das cavernas, seres humanos usam recursos expressivos como danças, cantos, pinturas, tatuagens para representar o que vivem, o que sentem, o que percebem do mundo. É um potencial natural de todos os humanos.
A arte humaniza a experiência.
Vida que vale a pena!